Psicóloga Maria Alice Salles | Guarda dos Filhos em Meio à Pandemia
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Guarda dos Filhos em Meio à Pandemia

Na minha experiência em consultório a guarda dos filhos passa pelo processo de como este filho foi concebido, bem como se foi planejado pelos pais. Como a família se organizou? Os pais tinham uma relação estável? Quem assumiu a criação: mãe, pai, avós, parentes? Como é a condição econômica dos pais?

Não me refiro a um determinismo, pois muitos filhos que não foram planejados são bem assumidos pelos pais, mesmo na separação. Muitos pais separaram-se pelos mais diversos conflitos e não deixam interferir nos direitos da criança ou adolescente. Inclusive têm pais que pouco se conheciam e também assumem a paternidade ou maternidade de forma tranquila.

Filhos que foram planejados têm uma melhor combinação sobre a guarda, pois os pais se preparam para ter o filho e ou para criá-lo. Quando falo de filhos e progenitores me refiro a filhos adotados também.  Quanto melhor for a separação também mais favorecido será a guarda dos filhos. Melhor separação no sentido dos pais não transferirem suas frustrações aos filhos.

Na minha prática clínica, em consultório, quem busca atendimento deseja um apoio para o enfrentamento dessa situação. Referem dificuldades nas combinações estipuladas pela justiça ou em combinações que nem chegaram à justiça ainda. Tais queixas são de pais que levam a criança a atendimento, ou pais que estão em psicoterapia e ou que buscam orientação.

Entre tantos entendimentos e orientações que procuramos fazer a justiça é fundamental ao meu ver. Muitas vezes o pai, a mãe ou os avós que estão assumindo o filho “sozinhos” não querem se incomodar com o outro progenitor. Costumo dizer: Tu não irás te incomodar à toa, irás mostrar o quanto o pai ou a mãe tem um filho e precisam se responsabilizar de alguma forma por ele. Como é bom sabermos que nossos pais se responsabilizam por nós, mesmo que a justiça jurídica tenha que intervir.

Em psicologia falamos que o filho pode encantar o pai ou a mãe, quando se aproximam e tem a possibilidade de desenvolver um vinculo ou até tentar um vínculo. Algumas vezes a justiça ajuda nesta tomada de atitude responsiva por parte do progenitor.

Óbvio que antes de eu sugerir tal conduta peço que me contem sobre o que sabe da vida desse:  existem pais que não têm renda nenhuma, que antes de se casarem ou quando se conheceram já sabiam que não havia possibilidade de renda, há casos em que os avós pagam a pensão pois o pai não pode pagar pelas mais diversas razões inclusive por doença mental, outras que nem os avós podem ajudar.

Contraindico a aproximação em alguns casos: suspeita de exposição sexual dos progenitores, suspeita de abuso sexual, uso de álcool ou drogas de forma abusiva com crianças ou adolescentes juntos, dependência química, agressão física ou verbal, filho com problema de saúde e quando vai para a casa do progenitor não é cuidado suficientemente bem, falta de limites no cotidiano ao ponto de ocorrer negligência nos cuidados, falta de alimentação adequada, dificuldade de empatia com a idade do filho levando a muitos conflitos.

Muitas vezes a mãe, o pai e ou os avós têm receio de ir na justiça cobrar a pensão porque o oficial de justiça pode ir em sua casa e exigir que a visita ocorra neste ambiente sem segurança emocional e ou física. Assim oriento cautela na intervenção judicial, pois pode prejudicar a criança.

Já atendi casos em que os filhos preferiam ficar com um dos pais ou até com os avós, mas como a justiça determinou um padrão: tantos dias com um ou finais de semana e a criança precisava cumprir mesmo que contrariada. Outras um dos progenitores estimulava o filho a ir usando-o como um investigador da vida do pai ou mãe e ou para poder receber a pensão: se não vai a pensão não vem.

A atual Pandemia afeta as emoções dos pais e filhos, a insegurança econômica que as famílias estão passando, a nova modalidade de trabalho que as famílias estão enfrentando e a possibilidade do desemprego gera o sentimento de desamparo, estresse e angústia diante de uma crise de tal natureza.

O poder de ir e vir, o deslocamento, o tempo de trabalho, a forma de trabalhar mudou para muitos. Os pais estando em casa trabalhando muitas vezes com as crianças que precisam ser estimuladas em seu desenvolvimento e ou em suas atividades escolares, os adolescentes precisando de apoio e limites em suas rotinas, demandam uma nova organização. Vivemos um cenário muito diferente para todos!

As limitações em relação à restrição de espaço, a possibilidade de um familiar adoecer, a não possibilidade de sociabilização, a faixa etária que exige cuidados personalizados de alimentação, higiene, cuidados precisam ser avaliados e preservados de acordo com cada faixa etária, para que a guarda possa ocorrer sem maiores prejuízos para os filhos e família.

Os pais e familiares precisam reconhecer se estão podendo cuidar e se inclusive não estão precisando ser cuidados. A família precisa ter bom senso em não sobrecarregar o filho com tamanha responsabilidade e pedir apoio, bem como os pais poderem contar um com o outro para não ficarem sobrecarregados. Muitos adolescentes preferem ficar em seus quartos e mesmo podendo ir para a casa de um dos pais não faz questão e nem o pai ou a mãe de buscá-lo para levar a sua casa.

A psicoterapia online está sendo permitida, telefone ou vídeo, assim como a telemedicina. Muitos precisam desse acompanhamento.  Advogados fazem consulta por telefone, por videoconferência. Profissionais que estão disponíveis para dar apoio ao momento inesperado na vida de todos.

A relação pai-filho-mãe precisa ser preservada onde essa construção dá uma nova adaptação de forma responsiva ao desenvolvimento saudável da criança ou adolescente.

Com a Pandemia precisamos avaliar algumas medidas de proteção: avós idosos, pais que trabalham na área da saúde, pais que trabalham em casa e têm como cuidar e ou não têm, pois, as Escolas estão fechadas. Quem fica com o filho? Quais os dias? Com certeza não está igual.

Os transtornos emocionais que surgem na infância ou adolescência afetam todo o desenvolvimento do indivíduo, por isso precisamos cuidar muito de nossas crianças e adolescentes.

A questão da pensão é um fator delicado em tempos de Pandemia o financeiro de muitas pessoas ficou afetado e as pensões podem ficar prejudicadas.

A forma como a guarda dos filhos será encarada requer muita maturidade e empatia com o filho:

– Onde a criança sente-se melhor?

– Quem melhor pode cuidá-la?

– Quem tem mais disponibilidade?

– Como fica a pensão se os pais perdem o emprego ou a renda diminui?

Todos precisam se ajudar. Estamos vivendo um período atípico de vida. Adultos terão que ter maturidade para o enfrentamento que não tem tempo de acabar. Nossos dias serão diferentes daqui para frente. A família pode ser criativa para poder ensinar a rotina de casa para os filhos, ensinar a economia doméstica, apoiar nos estudos, conversar mais, fazer mais programas com jogos, filmes, gastronomia. Não aproveitar para ensinar a fumar e usar álcool, conversar somente sobre problemas, se queixar muito ao dar limites. Comportamento agressivo e intolerante deve ser reconhecido e percebido pelos pais. Pais também podem estar adoecendo ou intensificando seus problemas emocionais. Percepção que os adultos devem fazer de si e avaliar se têm condições de ficarem com o filho ou um familiar alertar.

Estamos observando os problemas que antes da Pandemia já existiam se intensificarem, nas dinâmicas das famílias que possuem a situação de guarda:

– Muitos pais não conseguem cumprir por dificuldade nos empregos que não tem dia e nem hora certos.

– Por não desejarem estar com o filho e o outro progenitor exige: “Tu tens pai! Tu tens mãe!” Assim iniciam as queixas onde pais ou avós denigrem os progenitores na frente da criança e colocam seu ponto de vista negativo.

– Pais que ficam de buscar e inclusive combinam e não aparecem e tão pouco avisam.

A criança ou o adolescente já está vivenciando o conflito, seja pela questão econômica, seja pela questão da responsabilidade com a combinação judicial ou extrajudicial e agora todas as demandas da   Pandemia: segurança emocional, saúde, morte, futuro, escola os  deixam- muito vulneráveis e o adulto precisa ter maturidade emocional para auxiliar o menor.  Os pais, avós e familiares são os representantes do estabelecimento da confiança na criança ou adolescentes, fazem parte da construção do apego, sendo seus primeiros objetos de amor.



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